t r e z e | h o r a s

21:27




13 horas. Treze horas. Sim! T r e z e horas para chegar. T R E Z E horas de viagem, com uma paragem em Londres. Tu estás só! Tu estás completamente só, no meio da multidão de pessoas que viajam no mesmo avião que tu.
Tu estás só, num enorme aeroporto, no meio da multidão que com o seu destino marcado, corre, anda, senta, levanta. Sim, tu estás só no meio da tripulação. Tu estás completamente só quando te descalças, quando tiras tudo e mais alguma coisa para passar no detector. Tu estás completamente só quando pões as tuas bagagens no detector. Tu estás completamente só quando te dizem que está ok e podes avançar. Aí, tu voltas-te a calçar, e a vestires-te e a pores a mala às costas e mais uma vez reparas que estás só. O teu bilhete, o teu passaporte está nas tuas mãos. Há ecrãs por todos os lados. Sentaste nos bancos, olhas para o ecrã, esperas que apareça o teu voo, e quando reparas estás só. Deixaste pessoas para trás, tens pessoas que te esperam. Recordas a última imagem que viste. A hora está a chegar, tu levantaste segues as setas e aí está. Porta de embarque. E não é que continuas só? Tu estás na fila. Tu andas até ao avião. Tu sobes as escadas. Tu procuras o teu lugar. Tu sentaste no teu lugar. No lugar junto à janela, como pediste. Olhas para um lado, para a janela. Reconheces algo. O teu país. Olhas para o outro lado, está lá alguém. Mas tu não conheces. Mais uma vez comprovas que estás só. Tu memorizas as imagem. É Portugal. É Lisboa. É casinhas. É casinhas amontoadas. É o rio Tejo. É a ponte Vasco da Gama. Tu perguntaste quando voltarás a ver aquela imagem. Tu imaginas como será a imagem ao aterrares. Tu não tens resposta.Tu não conheces o aeroporto. Ele é enorme. Tu andas, tu segues. Tu olhas para cima, à procura de direcções. Tu andas. Tu sentaste, tu esperas por outro avião. Tu tentas contactar alguém. Tu tentas dizer que está tudo bem. Tu sentes que já estás longe. E pensas que ainda há uma distância maior a percorrer. E quando dás por ela mantens-te só. O teu voo aparece. Tu levantas-te. Tu caminhas. Caminhas. Caminhas. Só. Tu encontras. Se queres pedir alguma informação, chegou a hora de começar a falar outra língua. É o teu destino. Tu lês Canada. Tu voltas a entregar o teu bilhete. Tu sobes as escadas para o avião. Tu olhas uma vez mais para trás. Tu segues em frente. O lugar à janela está à tua frente. O avião é maior. Mas tu continuas só. Tu ouves. Mas o que tu ouves não te é familiar. Tu continuas sozinho. Tu olhas para a janela. Tu clicas nos botões do ecrã à tua frente. Tu lês o livro que levaste contigo. Tu lês as revistas do avião. Tu ajeitaste no banco. Tu viraste e reviraste. Tu pões manta. Tu tiras manta. Tu olhas novamente para a janela. Tu reparas que apesar de as horas passarem a noite não cai. O horizonte. O sol continua.Tu voas para Oeste. Tu olhas para o ecrã à tua frente. Tu tentas escolher um programa, um filme, para ver. Uma música para ouvir. Tu clicas na opção que te dá a tua rota. Ainda falta. Tu encostas a cabeça. Tu adormeces. Tu acordas. A tua vida toda passa-te pela mente. A tua família. Os teus amigos. As tuas vivências recentes. O teus lugares. A tua casa. O teu quarto. O teu cão. As últimas despedidas. Os últimos abraços. O que um dia deixaste ir. O que um dia te deixou. O que um dia tu agarraste. Como poderia ter sido se nuca tivesses apanhado aquele avião. O que deixaste por fazer. O que deixaste por dizer. Tu imaginas como irá ser daqui para a frente. O que estará para vir. O que estará à tua espera.  Tu clicas de novo. Portugal está longe. Tu voltas a clicar e o oceano já está atravessado. Tu pensas na loucura que estás a fazer. Tu sentes como és forte. Como foste forte em fazeres a decisão que fizeste. Tu orgulhaste da pessoa que está a fazer isto. Tu sentes-te capaz de mudar o teu mundo. Tu sentes que estás a fazê-lo. Tu sentes que estás a desenhar o teu destino. Tu não estás à espera que ele te venha ter às mãos. Tu sentes que estás a escrever a tua história. A história que um dia vais contar a alguém. Talvez os teus netos se vão orgulhar dessa mesma história. Tu sentes que não és o único. E que naquele minuto muitos iguais a ti estão a abandonar a sua zona de conforto. Tu olhas pela janela. Ainda é dia. Mas no horizonte, ao final de todas aquelas horas, já se vê aquelas cores vermelhas, laranjas, amarelas, que te indicam o pôr do sol. Tu voltas a adormecer. Agora já está escuro lá fora. O sinal de pôr o cinto está ligado. E pões o cinto. E tu não tiras os olhos da janela. Tu quase que não abriste a boca durante treze horas. Tu estás completamente só. Tu começas a sentir aquela sensação nos ouvidos. Tu estás prestes a começar uma nova vida. Tu continuas a olhar e tudo o que vês é apenas isto:


E aí tu tens o teu momento. Tu ficas fascinado com a imensidão de luzes. Luzes pequenas. Luzes grandes. Luzes de todas as cores. O que vês é simplesmente uma planície. Uma planície onde o Homem pôs as mãos. E tu tens a sensação que estás a ver uma das coisas mais bonitas do mundo. O teu futuro está aos teus pés. O teu futuro está lá em baixo. Tu ouves o barulho das rodas a saírem para o exterior. Tu aterras na tua nova cidade. Tu tens a noção que não estás a chegar a um destino de férias. Tu não sabes quando vais voltar. Tu vens para ficar. E tu ainda estás sozinho. Tu não consegues tirar os olhos da janela. De todas aquelas luzinhas. É magico. Sentes. Aterraste. O que vai acontecer agora? Estás sozinho! Tu caminhas em frente. Mais uma vez, procuras direcções. Ainda estás sem as tuas malas e chegou o momento de enfrentar quem te espera. Não. Não é a tua família ou amigos. É a segurança do aeroporto. "Qual o motivo da tua vinda?". A tua respiração para. Mas tu ages normalmente. "Estou de férias. Tenho cá família." A folha que trazias na mão foi carimbada. Tu não percebes. Mandam-te seguir. Tu segues. Existem dois destinos e um segurança entre eles. Mostras o papel que trazes na mão. Ele manda-te para a esquerda. Tu lês airport baggage arrivals. Tu sorris. Tu estás mais perto. A tua mala aparece. Tu pegas nela. Tu procuras pela saída. Estás quase lá. Tu começas a ouvir barulho. O barulho de pessoas. Tu olhas em frente. Tu vês uma cara familiar. Tu sorris. Tu andas mais depressa. Tu abraças essa pessoa. Tu já não estás só. 



Tu falas pela primeira vez. Essa pessoa leva-te dali. Um carro, uma cidade, uma noite, ruas e ruelas, prédios enormes, luzes por todo lado, luzes de todas as cores. Elas estão mesmo ali. Está tudo à tua volta. Tu vês tudo passar. Tu tentas ver o topo de tudo. Tu sentes-te uma formiga. Tu vês o que está a acontecer dentro dos prédios. Tu vês a CN Tower cheia de cor. Tu sentes. Tu estás em downtown. Tu estás em Toronto. Um restaurante de sushi é a próxima paragem. Tu falas e falas e falas tudo o que não falaste durante treze horas. Tu falas com uma pessoa que não vias há onze anos mas parece que sempre a tiveste do teu lado. Tu voltas à estrada. Tu vês as diferenças. Tu comparas. Tu descobres coisas novas. Tu vês coisas que nunca viste. Tu chegas à tua nova casa. Abrem-te a porta. Tu vês mais uma cara conhecida. Tu sorris e és recebida com um grande sorriso e um abraço forte. Tu sentes o calor, o carinho, o acolhimento. Tu sentes que essas pessoas estão a partilhar o que estás a sentir. Tu sentes que elas sabem o que estás a sentir, a viver. Elas já o viveram. Tu estás em casa. Tu estás a kilómetros e kilómetros de distância de tudo o que um dia foste. Tu estás a uma passo de ter o que um dia sonhaste para ti. Enfrentar o jet lag é só o passo seguinte. Tu estás ciente que não há possibilidade de qualquer passo atrás. Tu estás a ler a minha história. Qual é a tua? 
          Para vocês, com muito carinho.
          Não existem palavras para descrever 13 horas. 

Sobre esta imagem falo-vos depois. Também ela tem uma história. Uma história minha. 

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4 comentários

  1. Sem dúvida que este texto faz toda a diferença para o seguimento das tuas próximas aventuras! A tua ida, o início dos teus sonhos... Adorei a forma como o escreveste e até eu senti um grande leque de emoções ao lê-lo! Agora, que sei que estás adaptada, que sei que tudo corre como pretendias ( e eu que nunca duvidei disso), digo-te: valeu a pena a aventura, valeu a pena a indecisão, valeram a pena estas 13 horas de solidão! Continua Dianita, não largues os teus sonhos, vai em frente... Vou voltar a repetir-me, fazes-me muita falta, mas tenho um enorme orgulho em ti e no percurso de vida que constróis dia-a-dia com a tua dedicação, empenho, entrega. Saudades!!

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  2. Depois de ler esta emocionante descrição das primeiras 13 horas que te levam à concretização do teu sonho não tenho muitas palavras. Só te consigo dizer que me vieram as lágrimas aos olhos, que senti ainda mais saudades tuas e que, acima de tudo, senti uma grande admiração por ti e um orgulho inexplicável. <3
    Tens um lugar especial na vida desta tua amiga, Inês Bogalho.

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  3. Sem palavras!! :´) <3 Rui Dias

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  4. Ok... Quando li os vossos comentarios, nao consegui responder logo. Ia ter teste de writing e acho que nao ia ser boa ideia responder...porque já estava mesmo a ver que iria sair baba e ranho. eheh. Voces sentem que tem uma amiga muito especial, de quem tem muito orgulho, do outro lado do oceano... Mas eu tenho uma imensidão de vocês!! As vossas palavras acarinham-me dia após dia, e dao parte da forca que preciso! E uma sensação inexplicável de saber tudo o que voces me escrevem, todos os gestos que tem para comigo, para demonstrar o quanto sou importante para vocês, para a vossa vida. E isso da-me uma sensação que no passado fiz as coisas certas. Tudo valeu a pena mesmo. Tudo o que escrevo e' a minha historia. Mas a minha historia para vocês. Para que de alguma forma vos possa transmitir algo, vos possa também dar forca para os vossos objectivos, para as vossas mudanças diárias. Vocês estão no meu coração a cada minuto e eu torco por vocês a cada dia, porque cada um a sua maneira tem a sua forca interior, o espirito de guerreiro e sem duvida merecem o melhor. <3

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