Dez minutos.

21:17

Ao contrário das treze horas de voo que me distanciaram do meu país, dez minutos de manhã e outros dez no final do dia, é apenas o que preciso para ir da estação do metro ate ao colégio.
Tal como aquelas treze horas me deram tempo comigo própria. Estes vinte minutos são o suficiente para terem o mesmo efeito. Nesses vinte minutos sou eu e a imensidão de pessoas que passa ao meu lado na direcção contraria ou que levam o mesmo rumo que eu. Para não falar em todo o tráfego. Chegar a uma cidade nova tem este, como um dos pontos positivos. Tu passas a ver, e não apenas a olhar para o mundo que está à tua volta. O que eu quero dizer é que, quantas já foram as vezes em que já passaste por um sitio, e só agora reparaste que ele tem algum pormenor lindíssimo? Ou que viste algo de novo lá, mas que provavelmente isso sempre lá esteve? Quantas vezes olhaste para cima e viste que as fachadas dos prédios ao teu redor são belas, mesmo já transparecendo os imensos anos que as separam de ti? Na nossa cidade, nós caminhamos e levamos a nossa vida rotineira, e apesar de pensarmos que já vimos tudo, no final não vimos nada. Tudo é tão rotineiro que tu fazes o mesmo percurso de olhos completamente fechados. Talvez chegues ao teu destino e não absorveste nada à tua volta. Aliás, por vezes só te lembras onde essa caminhada começou e onde ela acabou. Aqui, eu aproveito esses vinte minutos para absorver tudo ao meu redor. Cada passo é um olhar para cada esquina, para cada loja, para cada prédio enorme, para cada jardim, para cada pessoa. Para todas as múltiplas culturas que passam por mim. Para cada som. Para toda aquela agitação de uma cidade só, que parece que não dorme. E isso faz-me sentir viva e sorrir por vezes. Sim, sorrir sozinha de tanto ser o sentimento bom que eu sinto. O gesto começou a ser rotineiro, e a cada início de caminhada, para além da quente e fofa indumentária que tenho que vestir  para não congelar a cada passo, os meus phones são a minha companhia. A seguir estou pronta para seguir viagem, mergulhando na minha cidade atribulada e nos meus pensamentos. Dez minutos de manhã e dez minutos à tarde não se comparam com a imensidão de horas que me permitiram parar para pensar em tudo o que me tornei hoje e o que possivelmente me poderei tornar amanhã, mas são o suficiente para sair um pouco da realidade do hoje. Rodeada da minha cidade e absorvendo tudo a cada passo, parece-me o cenário ideal para o fazer. Até porque cada estimulo vindo de fora, faz-me mudar toda a rota de pensamentos. E posso dizer que já sorri, já ri à gargalhada, já chorei, já cantei, fiz cara séria, já lembrei de alguém, já esqueci alguém, já tomei decisões importantes, fiz escolhas, mudei a minha mentalidade, tracei objectivos, revi a minha vida, redesenhei-a, apaguei-a, voltei a desenhar e já a pintei de muitas cores. Já sonhei e já rezei para ser realidade. Já vi realidades que rezei para serem mentira. Já reflecti sobre temas polémicos da sociedade, já pus para trás das costas, já pus em primeiro plano, já olhei para trás (sem nunca perder o norte), já sorri para um desconhecido, e já provoquei sorrisos, e falei para quem não conhecia. Já quase que me apaixonei e me apaixonei. E tudo acontece em dez minutos e na maioria dos casos, muito possivelmente só cada "pedra da calçada", - ou se quiserem um termo mais apropriado para Toronto -, só cada floco de neve o pode testemunhar. Os prédios enormes são os únicos que me podem ouvir e são a eles que eu provavelmente me confesso naqueles dez minutos, sozinha comigo mesma e com eles do meu lado. Pois ninguém mais sabe que tu ali vais, porque todos estão demasiado preocupados em andar depressa para chegar ao destino. E é aí que tu te sentes sozinha e bem no meio de toda aquela agitação, e finalmente tens um momento para ti. De manhã é como se soubesse a um sumo de fruta e legumes bem fresco e revitalizante. Para os menos saudáveis talvez será um café. É como um empurrão para o longo dia. E à tarde é como um belo banho relaxante cheio de espuma e rosas, com morangos à mistura. Sentimento de mais um dia cumprido. 

Adorando cada passo,
with love.





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1 comentários

  1. Cousin to cousin we'll always be, Special friends from the same family tree.

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